Essa semana li uma reportagem em um dos meus blogs favoritos
sobre cachos, falando sobre a influência da família na transição capilar. Boa
parte das pessoas que estão passando por esse processo de transição são menores
de idade, e precisam do apoio dos pais. O que acontece é que na maioria dos
casos, os pais estão convivendo há tanto tempo com a falsa ideia de “cabelo
ruim”, que assumir o cabelo cacheado parece desleixo ou falta de vaidade.
Muitas garotas preferem viver um conflito interno de personalidade do que
enfrentar um conflito familiar.
Quando eu resolvi passar pela transição capilar, estava
certa de que enfrentaria muito mais preconceitos dentro de casa do que na rua.
Afinal, a maioria das pessoas com quem eu convivo sabem do quanto o meu cabelo
cacheado me representa. Mas dentro de casa não era bem assim. Afinal, os pais
são sempre responsáveis pela formação de ideias nos filhos. E se, a minha mãe,
depois de tantos preconceitos sofridos acabou por achar que cabelos de negro
são “ruins”, e o meu pai por ser branco, filho de pais extremamente
preconceituosos, é também cheio de preconceitos, quem me ensinou a gostar de
ser negra? Se na escola, nas campanhas sobre consciência negra, os palestrantes
alisavam os cabelos, quem me ensinou que o meu cabelo cacheado pode ser bonito?
Ninguém.
Quando eu resolvi assumir o meu cabelo, não tinha percebido
essa onda de transição capilar que já dominava a internet. Acontece que eu
estava cheia de tentar me adaptar em um mundo onde eu não pertencia. As
tentativas de me adaptar a sociedade já estava me sufocando. Então eu resolvi
tentar ser eu mesma. E comecei pelo meu cabelo. No início, ficou exatamente como
imaginei que ele ficaria. Sem surpresas. Poucos dias depois, assisti uma
matéria num programa de televisão com uma blogueira que falava de cabelos cacheados.
A Rayza Nicácio. Até então eu não sabia que isso existia. Entrei no canal e
comecei a aprender um pouco mais sobre o meu cabelo, procurei outras pessoas
com cachos diferentes, e fui testando produtos, até que aprendi a cuidar do meu
cabelo, e o resultado foi fantástico. Não imaginei que o meu cabelo ficaria tão
cacheado. E não era só isso, depois de ver tantas blogueiras cacheadas eu
acabei aprendendo a me amar do jeito que eu sou. Hoje, mesmo nos dias mais
complicados do meu cabelo, eu olho no espelho e me sinto linda. E é essa a
imagem que você tem que passar pros seus familiares. A de alguém que se ama,
que se encontrou. Só depois de ver o quanto essa mudança significa para você,
eles vão aprender a te aceitar também. No final das contas, a tua família te
ama, e mostrar que você é mais feliz quando se aceita é a única forma de
convencer a te aceitar também.
Eu sempre achei que os meus cabelos lisos, me passavam uma
imagem de garota forte, séria, e que merecia credibilidade. Hoje eu sei que
forte é quem assume suas fragilidades, sério é quem age com seriedade, e só
merece credibilidade quem realmente é confiável. Assumir quem eu sou me fez
lutar por ter todas essas características, e realmente é mais difícil do que
simplesmente parecer tê-las. Mas é recompensador saber que eu mereço cada
elogio, tanto pelo meu cabelo, quanto pela personalidade que ele me ajudou a
conquistar.
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